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É preciso ampliar a visão sobre o papel da tecnologia como aliada à sustentabilidade, reconhecendo […]
Por *Luiz Sergio Pereira
A inteligência artificial já ocupa papel estratégico em diferentes setores da sociedade. Sua capacidade de otimizar processos, prever comportamentos e propor alternativas para questões complexas tem sido celebrada como essencial para o enfrentamento de desafios globais, inclusive os ambientais. No entanto, por trás da promessa de inovação, há uma face ainda pouco debatida.
A operação da IA impõe um custo ambiental crescente, marcado pelo alto consumo de energia e água e pela geração de lixo eletrônico em escala acelerada. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), data centers consumiram cerca de 1,5% da eletricidade mundial em 2024, com expectativa de chegar a 3% até 2030. Em cenários mais extremos, esse número pode se aproximar de 4% em 2035.
É preciso, portanto, ampliar a visão sobre o papel da tecnologia como aliada à sustentabilidade, reconhecendo que seus benefícios dependem do contexto e da forma como é utilizada. Modelos mais avançados, como os de IA generativa, exigem grande capacidade de processamento e operam continuamente em centros de dados que utilizam energia intensiva, muitas vezes vinda de fontes fósseis.
Além disso, utilizam grandes volumes de água para resfriamento. Cada requisição feita a uma IA generativa, como uma simples pergunta, pode consumir meio litro de água, quando considerados os efeitos do resfriamento das máquinas. A escala global dessas interações diárias torna esse impacto significativo, principalmente em regiões já vulneráveis à escassez hídrica.
Outro aspecto a ser considerado é o descarte prematuro de equipamentos eletrônicos, impulsionado pela rápida obsolescência dos hardwares usados em processamento de IA. Muitos desses componentes contêm metais pesados e materiais tóxicos, que oferecem riscos ambientais e sanitários quando descartados sem controle.
No Brasil, apesar da matriz energética relativamente limpa, o aumento da demanda por energia pode forçar a ativação de termoelétricas e a construção de novas hidrelétricas, ampliando pressões sobre comunidades tradicionais e áreas naturais sensíveis. A ausência de uma regulação clara para o funcionamento ambientalmente responsável da IA deixa o país vulnerável a impactos silenciosos e cumulativos.
O desafio está posto: como permitir que a inovação tecnológica avance sem ampliar a crise ecológica? A resposta passa por compromissos concretos e ação coordenada. É urgente que os data centers no Brasil operem com energia 100% renovável e que as empresas invistam em algoritmos mais eficientes, que demandem menos poder computacional.
A indústria de hardware também precisa ser pressionada a adotar práticas de ecodesign, com foco em durabilidade e reaproveitamento. É tão importante quanto isso, é garantir transparência no consumo de energia e água das operações de IA, com métricas públicas, auditáveis e acessíveis à sociedade.
Cabe ao Brasil aproveitar suas vantagens comparativas e assumir liderança nesse debate. A definição de um marco regulatório ambiental para o setor de IA e data centers é um passo essencial. É possível aliar inovação e sustentabilidade, mas essa convergência exige decisão política, mobilização empresarial e controle social. A IA é uma realidade irreversível, mas ainda temos a escolha sobre como ela será implementada: como uma tecnologia regenerativa, que respeita os limites do planeta, ou como mais um vetor de degradação camuflado pelo discurso do progresso.
*Luiz Sergio Pereira é Diretor de Relações Institucionais da SAVE Brasil e possui mais de dezoito anos de experiência em projetos sociais, culturais e ambientais. Mestre em Gestão e Estratégia pela UFRRJ, com MBA em Bens Culturais pela FGV, atua com captação de recursos, diversidade, inovação e desenvolvimento sustentável. Atualmente, também lidera a estratégia da Bienal Amazônia 2025.