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O desafio da Filantropia no Brasil: desigualdades extremas, riqueza concentrada e o potencial transformador do […]
No Brasil, a concentração de riqueza é alarmante: 63% dela está nas mãos de apenas 1% da população. Esse contraste é ainda mais marcante quando se considera que o país ocupa a 7ª posição global em número de bilionários. No entanto, essa disparidade não se traduz em uma cultura de doação proporcional, muitas vezes marcada pela discrição e pela falta de proatividade em engajar novos doadores. O desafio é criar incentivos que estimulem um engajamento mais amplo, promovendo a visibilidade do ato de doar como um modelo inspirador, rompendo com a tradição do “doar, mas não contar”. A reflexão sobre o acúmulo de capital e a responsabilidade social torna-se ainda mais urgente nesse cenário. Não é suficiente melhorar o que já existe, é preciso criar algo inovador e recorrente que promova as mudanças necessárias. O futuro do investimento social privado e da filantropia exige uma reavaliação na alocação de recursos, na definição de prioridades e na busca por soluções que enfrentem as brutais desigualdades sociais, especialmente aquelas relacionadas à raça e ao gênero.
Como transformar essa realidade? Uma resposta possível está na sensibilização de filantropos e doadores por meio de experiências voluntárias. O voluntariado, especialmente quando realizado em pequenos grupos e com contato direto com territórios e causas específicas, tem o potencial de ser a porta de entrada para um engajamento e doações mais comprometidas. Essa imersão permite que os doadores compreendam as necessidades reais das comunidades e o impacto concreto de sua contribuição, gerando um senso de pertencimento e uma conexão mais profunda com a causa. É essencial reconhecer que as comunidades detêm o conhecimento sobre suas próprias necessidades e recursos, e que filantropos, investidores e voluntários devem exercitar a escuta ativa dessas vozes locais.
É encorajador constatar que 34% da população brasileira com mais de 16 anos já se dedica ao voluntariado. Esse dado revela um potencial enorme para expandir e aprofundar a cultura de doação no país. A proposta é avançar rumo a um campo comprometido com transformações sociais efetivas e com o desenvolvimento sustentável, sem ignorar as complexas desigualdades sociais. Isso inclui o apoio consistente às Organizações da Sociedade Civil (OSCs) e a busca por um planeta mais habitável e menos desigual. Essa perspectiva reforça que o futuro do investimento social privado passa por desconcentrar poder, conhecimento e riqueza, valorizando os saberes locais e garantindo que quem define o futuro de um território seja quem nele vive — e não apenas quem nele investe.
Proporcionar experiências voluntárias significativas cria um elo tangível entre o potencial doador e a realidade que ele busca transformar. É a oportunidade de ir além da doação monetária e mergulhar em uma experiência que sensibiliza, educa e, acima de tudo, conecta. O voluntariado pode ser o catalisador de uma cultura de doação mais robusta e transparente no Brasil — uma cultura onde a visibilidade do ato de doar inspira e multiplica a generosidade, pavimentando o caminho para um novo modelo de engajamento social.
Minhas reflexões sobre esse cenário desafiador, mas promissor, e meu otimismo em relação a um futuro menos desigual, foram profundamente inspirados por vozes femininas que trouxeram clareza e confiança. Pessoas como Inês Lafer, com sua defesa da transparência na cultura de doação e da importância da taxação de grandes fortunas para promover justiça social, nos impulsionam a repensar a origem e o destino dos recursos. Abigail Disney, com sua coragem ao questionar a concentração de capital e sua defesa de uma filantropia voltada à superação da pobreza e da discriminação, nos inspira a um ativismo mais profundo. Benilda Brito nos lembra da sabedoria presente nos territórios e da urgência em ouvir as comunidades locais para alcançar verdadeiras transformações sociais, por meio da desconcentração de conhecimento e poder. Ticiana Rolim, com seu olhar atento ao futuro do investimento social privado, destaca a importância de abordagens inovadoras e sustentáveis que enfrentem as complexas questões de raça e gênero. O mais inspirador é que essas líderes não apenas advogam por esses ideais — elas os praticam. Em suas fundações, institutos e organizações sociais, atuam ativamente como voluntárias, demonstrando o poder transformador da dedicação pessoal e da imersão nas causas que defendem. Tive a oportunidade de ouvi-las pessoalmente no Congresso GIFE 2025, onde suas falas reforçaram meu otimismo e a urgência de uma filantropia mais engajada, transparente e conectada às realidades sociais brasileiras.
Essa visão coletiva e a experiência prática dessas lideranças iluminam caminhos possíveis para uma filantropia mais corajosa, conectada e comprometida com transformações reais. Ao integrar o voluntariado como ferramenta de escuta e aprendizado, e ao reconhecer os saberes das comunidades como base para decisões, o campo do investimento social privado no Brasil pode romper com modelos distantes e hierárquicos — e se reconstruir a partir da proximidade, da prática e da corresponsabilidade.
Silvia Maria Louzã Naccache
Empreendedora Social – Conteudista – Consultora – Palestrante – Captadora de Recursos – Voluntária